terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Cisne Negro - eu senti


O filme Cisne Negro não acaba quando você sai do cinema, nem quando você pega o carro e se afasta da sala onde o assistiu. A música fica tocando em seus ouvidos, mesmo que você ouça outras músicas; as imagens povoam seus sonhos, mesmo que você assista a uma comédia televisiva antes de dormir. Enquanto você está na sala de projeção, ele te envolve e encanta. As imagens são precisas, marcantes e, a medida que a trama se desenrola, te enchem de dúvidas e apreensão.

Você procura entender e julga que conseguiu, mas logo mergulha de novo na insegurança até ir assimilando aos poucos a loucura daquela artista que vai às últimas consequências para realizar sua arte com a tão ansiada perfeição... e é bem aí que começo a me identificar!
Uma obra de arte é algo que foi criado por alguém e que, quando se oferece ao público, está sujeita às mais variadas interpretações. Cada pessoa a “lerá” sob a própria ótica, de acordo com suas experiências, conhecimentos e vivências.
Cisne Negro me remeteu ao final dos anos 1980, quando interpretei Madame Clessi na peça Vestido de Noiva, de Nelson Rodrigues. Eu era aluna do Curso de Formaçao do Ator, da UFPE, em Recife e, por falta de espaço nos teatros locais, nossa montagem foi concebida para um casarão, o que a tornava mais verossímil e envolvente, uma vez que a história de Alaíde, a protagonista, se passa num antigo casarão onde funcionara um bordel. dirigido pela cafetina “Madame Clessi”.
Na peça, Madame Clessi existe apenas na imaginação de Alaíde que, ao encontrar seu diário, fica fascinada pela história daquela mulher que tivera uma vida tão diferente da sua. Alaíde entra em coma após ser vítima de um atropelamento, e é em seu delírio que “Madame Clessi” passa a existir.

Para interpretar Clessi, mergulhei no universo rodrigueano, assistindo aos filmes baseados na obra de Nelson, lendo suas peças e sua biografia. Jovem e inexperiente na arte e na vida, ansiosa por dar o melhor de mim, me apaixonei pelo meu personagem e me misturei com ela a ponto de querer que durasse para sempre. Mergulhei de tal forma naquela existência paralela que, no dia seguinte à estréia, minha sensação foi de estranheza ao ver que o mundo não mudou. Tudo continuava ali, com sua forte característica de realidade, apesar de mim e de Clessi.

Cisne Negro é assim: intenso, verdadeiro, louco, real... contraste, harmonia, incoerência, beleza... impossível descrevê-lo pois assisti-lo, será, sem dúvida, uma experiência pessoal. Natalie Portman, interpretando Nina, atinge a perfeição. A certa altura, extasiada com sua força interpretativa, eu disse ao ouvido da minha amiga “o Oscar é dela”. O maior prêmio de Natalie, porém, não lhe será dado pela Academia de Cinema e ninguém lhe pode tirar, pois vem sendo construído há muito tempo, com cada pedacinho de vida, cada erro ou acerto em cada trabalho. Ele é construído passo a passo e não é dado apenas aos famosos. É a alegria selvagem, o êxtase, a satisfaçao plena de ter, enfim, conseguido dar o melhor de si.

3 comentários:

  1. Querida Ceci,

    Amei seu blog. Vou adorar entrar em contato com suas impressões. Beijos Liduína Benigno

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  2. Oi Ceci,

    Quando você faz esta conexão das emoções vividas com o que a ficção pode nos proporcionar, você aproveita o que de melhor os textos de Nelson Rodrigues pode despertar e influênciar o nosso cotidiano. Muito intensa sua reflexão do Cisne Negro, também sai do filme com esta sensação.
    Continue escrevendo, está muito gostoso acompanhar suas impressões.
    Bj
    Thelma Régio

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  3. A primavera é quando ninguem mais espera a primavera é quando não...

    Abraço, Saul Britto.

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