segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Mimi e Nina

Em setembro de 2010, após muito tempo sonhando fiz, finalmente, minha primeira viagem à Europa.  Que maravilha estar naquelas cidades tão belas: Paris, Londres, Veneza, Florença, Roma... palácios, museus, igrejas, obras de arte, beleza de encher os olhos e a alma!

Dentre as tantas experiências vividas, escolhi uma para contar a vocês. Voilá!


Estar em Paris era o máximo mas, para mim, só teria graça se saísse daquele ônibus de turismo,  pusesse os pés nas calçadas da cidade e me comunicasse com as pessoas que lá moravam. Queria caminhar pelas ruas, pontes e praças parisienses, sentir cheiros e sabores, cruzar com seu povo, ver “franceses”. Pensava em chegar aos lugares por minha conta e acreditava ser possível, embora  meu francês se resumisse a je t’aime, ma cherie, mon ami, bonjour  e... Gerard Depardieu.

Naquela manhã meio fria, saímos do hotel após o café,de forma intrépida e corajosa, rumo ao Palácio de Versailles. Minhas companheiras de viagem são boas de mapa e acreditavam no meu poder de comunicação mas, secretamente, fiz uma pequena oração: “Deus, faça com que encontremos pessoas boas em nosso caminho.” Ele me atendeu.

Assim que entrei no metrô, avistei duas senhoras que pareciam ser gente boa e simples. Sentei-me diante delas e, usando mímica, expressões, sorrisos e umas poucas palavras, consegui perguntar em que estação deveríamos descer para tomar outra condução até Versailles. Elas sabiam mas, quando desandavam a falar rapidamente, eu não conseguia entender. Minhas amigas entraram na conversa e, juntas, compreendemos que deveríamos descer na estação 9-Pont de Sévres: “neuf neuf”, insistia a senhora mais gordinha, formando o número 9 com as mãos.

Mais tranquila após me apoderar da informação, comecei a “conversar” com as duas.  Perguntei-lhes os nomes.  Mimi e Nina, responderam.  Disse-lhes que me chamava Ana, dos meus nomes o mais fácil de entender; falei que sou brasileira e o
resto da comunicação se fez de sorrisos e olhares carinhosos por parte das duas.  Quando a estação Pont de Sévres se aproximou, Mimi apertou levemente meu braço e disse ,muito devagar, para que eu entendesse: “Ana, au revoir”.

Levantamo-nos para descer mas a porta não abriu.  Não abre? perguntei, apavorada. Mimi levantou-se afobadamente e com gestos largos indicou que precisávamos abrir a porta com as mãos. Um jovem que estava próximo abriu a porta e minhas companheiras pularam. Eu, mais pesada e por isso mesmo menos ágil, fiquei, mas a porta foi novamente aberta e, finalmente, consegui descer do metrô.

Ufa! Que medo de me perder das amigas e ficar sozinha naquela cidade estranha. Acostumada com os metrôs brasileiros: Recife, São Paulo, Rio e Brasília, com suas portas que abrem sozinhas, jamais imaginaria encontrar, na cidade luz, metrô com portas manuais.


Foi uma grande aventura mas, inesquecível mesmo, foi conhecer aquelas duas encantadoras senhoras.  Devem ter por volta dos 65 anos.  Vestidas com simplicidade, pareciam estar voltando para casa após algumas compras.  Jamais esquecerei a forma carinhosa como me trataram, interessando-se tanto por nosso destino, esmerando-se para nos dar uma informação compreensível, desmanchando para sempre o preconceito que eu trazia de que os franceses são grosseiros e não se preocupam em entender e ajudar os outros.   

Lembrarei para sempre o olhar amoroso das duas, talvez nos achando meio maluquinhas por estarmos sozinhas em Paris tentando chegar em algum lugar sem falar a língua, mas com muita tolerância e vontade de ajudar.

Esse texto é uma forma de homenagear Mimi e Nina, dizendo a todos que o lerem que os franceses são pessoas doces e disponíveis.  

Mimi e Nina, foi um prazer muito grande conhecê-las.  Au revoir, queridas! 

4 comentários:

  1. Como sempre um texto cativante e bem humorado!
    Amei! Vá em frente que este blog tem futuro!
    bjos!

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  2. Cecília,
    seja bem vinda ao mundo da blogsfera!
    Tenho certeza que este espaço te trará muitas alegrias.
    Nossas histórias são retratos da nossa vida, com suas dores, alegrias, encanto e esperança.
    Nossos blogs são janelas por onde nosso coração alça vôos...
    Beijos!

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  3. Cecy,
    muita felicidade neste novo cantinho.
    Amei os textos e as fotos também!
    beijos

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  4. Cecília,
    Seu texto é tão cativante que a gente não quer que termine nunca. Ao final, a gente sente que também conhece Mimi e Nina. E dá uma saudade...
    Beijos,
    Rose

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